Monday, December 11, 2006

Carro, família e vídeo-game

Procuro não perder muito tempo vendo programas de tv. Este era um dos meus passatempos prediletos na infância. Lembro que um dia passei mal e levei a família toda ao stress porque faltou energia elétrica na casa dos meus pais e não seria possível ver o programa do Sílvio Santos que começava as 11h da manhã e ia até as 20h. O tal programa estava registrado no Guiness Book, o livro dos recordes, como a atração televisiva que ficava mais tempo no ar em horas continuadas e eu achava aquilo o máximo.
Para resolver o conflito do filho sem tv, meu pai me levou para a casa de um amigo dele que me aguentou um domingo inteiro vendo o "homem do baú" e suas brincadeiras repetitivas. Podia faltar tudo na minha casa, menos o progrma do Silvio Santos para mim. Os meus irmão saima para a rua, tida como perigosa ainda hoje. Os reflexos deste comportamento estão nas minhas ações pessoais até agora e não há terapia que cure. O estudo, talvez.
Bom, deixemos as minhas lembranças infantis de lado e passemos ao momento atual: no último sábado passei rapidamente os olhos nos programas exibidos pela tv aberta e percebi pequenos deslizes nas falas dos que comandam os respectivos programas. Um deles propõe deixar carros velhos e estragados com cara de novos. É uma festa! Ver o antigo carro com nova coloração, limpo, cheio de acessórios como som e portas automáticas deixa qualquer um emocionado.
Depois de entregar o carro transformado ao "sortudo" que o programa escolheu para agradar aos seus patrocinadores, o apresentador diz que tem uma surpresa a mais: no carro estão instalados dois vídeo- games novinhos para que os filhos do presenteado não briguem mais enquanto viajam ou se locomovem no carro.
A minha infância sofrida, mas bem vivida estimulou todos os meus "subs" e inconsientes quando vi o tal programa sábado e lembrei de um ensinamento básico na casa dos meus pais: dividir com outro as emoções e as brincadeiras. Exageramos e dividimos porradas muitas vezes.
Tomei um susto quando ouvi o apresentador dizer em alto e bom tom: DOIS VÍDEO-GAMES no seu carro para que os seus filhos não briguem mais! O presente foi entregue com uma pitada de intromissão na vida familiar do outro e aparentemente todos concordaram. Soou como algo lógico, comum, simplista, próprio dos dias de hoje. A possível conversa no interior do "novo"carro, literalmente morreu.
O importante é que esta família está em paz, com o seu carro refeito e com os filhos acompanhando a modernidade . Como diria a minha avó: uma família unida, completa e feliz.
Volto a falar de tv no próximo texto. Me empolguei demais na escrita deste.

Para os meus pais, que a cada saída no nosso velho fusquinha nos estimulavam a conversar através de brincadeiras, observação da cidade e pasmém, das brigas.

Tuesday, December 05, 2006

Perigo, perigo, perigo!

Socorro! Xuxa, a apresentadora de programa infantil (?) lançará um livro relembrando os seus 20 anos de carreira.
Vou estudar um pouco e volto logo.
Aos amigos leitores agradeço a paciência pela não atualização mais constante do blog.
Paulo

Tuesday, November 28, 2006

Enrolado que gosta de curtas (e boas)



Muitos amigos dizem que eu sou "enrolado" demais. Creio que sou mesmo. Estou às voltas com diversas atividades por finalizar e fico proletando a escrita do blog. Peço desculpas ao parcos, mas fiéis leitores que insistem em ser fiéis a este sonhador.

Enquanto elaboro um texto para a próxima sexta-feira, indico um site pra lá de interessante. É http://www.portacurtas.com.br . Neste endereço há centenas de pequenos filmes que vão da comédia à ficção, do documentário à animação. Há uma coluna em que você clica e há a exibição aleatória de um filme, uma espécie de roleta da sorte. O que saiu para mim chama-se "Unidos vencerá" que trata de futebol e a sua relação com a torcida. Lembrei de diversos amigos enquanto o vídeo era exibido. É grátis, basta você digitar o seu e-mail e uma senha de acesso.

Um abraço a todos. Não abandonem esta coluna, por favor. Volto logo!

Petroleiro Predileto, mantenha contato. Tô com saudades dos papos.

A foto que ilustra o texto tomei emprestada dos arquivos do William.

Monday, November 13, 2006

Sedução do passado

Desde a minha infância tenho um certo fascínio pela história biblica de Sodoma e Gomorra. Contada pela minha avó materna, essa passagem relatada pelos escritos sagrados ganhava ares de medo, terror, e claro, muita inquietação com a perspectiva de virar sal se olhasse para trás.
Aos leitores mais religiososo peço perdão para contar a minha versão do episódio bíblico tal qual imaginei quando ouvia os relatos da minha avó. A história era mais ou menos assim: muitos homens e mulheres viviam em cidades sem regras. O pudor perdeu o seu espaço e a libertinagem tomou conta de todos. Era o verdadeiro canaval carioca em épocas mais remotas. Todo mundo bebia, cheirava e transava o dia todo. O trabalho parecia não existir para ninguém. Era o paraíso, digo, o inferno.
Deus, então, num dos seus dias de trabalho árduo e inquieto com a tranquilidade celeste, viu que as pessoas de Sodoma e Gomorra não estavam nem aí para as práticas religiosas e morais e mandou uma mensagem avisando que ia destruir as cidades e quem quisesse se salvar deveria abandonar tudo e seguir para outro lugar seguro. Foi o assunto do dia nas cidades. Entre uma bebedeira e outra as pessoas pensavam se abandonariam ou não as cidades.
No entanto, avisava o Poderoso Chefão, os que desejassem a salvação, além de trilharem um caminho seguro, não deveriam olhar para trás em hipótese alguma. Deveriam seguir o caminho da libertação com o olhar para frente.
Certamente muitos curiosos e incrédulos deram uma espiadinha para ver o que acontecia em Sodoma e Gomorra e se transformaram em estátuas de sal. A narradora desta pequena história me lembrava que havia muitas explosões, que as pessoas gritavam muito, que o choro tomava conta de quase toda a população. Eu perguntava a minha avó como alguém conseguia não olhar para trás com tanta confusão. Se duvidasse ainda haveria alguém "tomando umas" mesmo sabendo que iria pagar um preço alto pela escolha.
A resposta da vovó era que os que queriam ser salvos deveriam olhar para frente e deixar os erros do passado sepultados, imexíveis.
Tenho pensado na idéia de sacudir os elementos do passado para construir a salvação (não no aspecto bíblico) das minhas propostas de vida atuais. Rever as imensas bobagens que fiz por mera opção clara e definida sabendo que tudo se transformaria em sal depois. Viver é errar. O ano pra mim terminou. Ainda não me transformei em pedra de sal. Estou mais insosso do que nunca, mas continuo dando umas olhadas para trás. Curiosmante o passado me seduz.
P.S - agora vou ler, quase 40 anos depois de ouví-la da minha avó, como a história de Sodoma e Gomorra é retratrada na bíblia.

Fran, este texto é para você, que não lê o meu blog, mas é parte do meu passado, do meu presente e claro, do nosso futuro.

Friday, November 03, 2006

Vôos

Caos nos aeroportos. A notícia se repete há vários dias. Enquanto as pessoas não voam por conta dos problemas com as companhias aéreas, estou em casa compensando o atraso de algumas atividades com as quais estou envolvido. A atualização do blog é uma delas.

Volto já, prometo.

Venilsom, obrigado pela leitura do blog. Bom demais saber que vc passou por aqui.

Abraço grande, PH

Thursday, October 26, 2006

Proibições casuais


Nos pequenos percursos que faço durante o dia, tenho percebido que as proibições, tidas como parte da nossa vivência cotidiana, ganharam uma nova roupagem com os incessantes avisos de "não faça isto", "não faça aquilo". Parece que a sociedade não acredita mais na livre organização das pessoas para que não excedam os limites aceitos pelo grupo ao qual pertencem. Senão vejamos:

Um dos banheiros de um grande hospital de Belo Horizonte divulga através de diversos anúncios escritos que é "proibido lanchar" naquele local. Será que erraram o local de divulgação do aviso? Não sei. O certo é que no mesmo instante em que vi o tal anúncio peguei a minha barra de cereal que guardei da última viagem que fiz por aquela companhia aérea de baixo custo e a comi com aquele ar de quem "quebrou a regra estabelecida". Regrinha mais besta, sô. Banheiro por acaso é local de fazer lanche? Nem mesinha tem!

Ainda no mesmo banheiro há outro aviso que diz: "caros pacientes, usem bucha e sabonete no banho". Logo após há outro que indica que é favor "economizar água e ser rápido no banho". Confusão geral nas ordens. Como conciliar banho rápido com sabonete, bucha e economia de água? Novamente tive que ignorar os avisos.

Por falar em banheiro, as tradicionais instruções vistas em qualquer shopping ou escola de que "duas toalhas de papel bastam" para enxugar as mãos parecem motivar as pessoas a puxarem no mínimo, umas quatro delas. Contrariando o ditado popular, duas toalhas de papel parecem não serem suficientes para a secagem das mãos.

Vou seguindo no caminho para casa e o texto colado no vidro de um ônibus urbano avisa que "é proibido carona". Esta frase me chama a atenção e mostra um comportamento social presente no transporte público: a carona não autorizada, mas possível. Meia hora de percurso e percebemos que há várias viagens sem custos para diversos passageiros.

Chego na padaria e há um cartaz alertando para "não tocar nos pães". "Vixe, o mundo tá perdido mesmo", pensei. Com todos aqueles pegadores de alumínio disponíveis as pessoas querem tocar nos pães? O curioso desta advertência é que não há como "tocar" nos pães, pois há um vidro separando os consumidores dos produtos ofertados.

Vendo todos estes avisos e diversos outros que esqueci de citar aqui, penso que poderia haver proibições mais instituidas no nosso dia-a-dia. Cito algumas:

# É proibido àquela rede de telefonia fixa que insiste em ser má, ligar para vc nos horários mais inoportunos oferecendo promoções e produtos que no futuro só te dão aborrecimentos;

# Não será permitido a colagem de anúncios estabelecendo as regras sociais. O respeito ao outro falará sempre mais alto através da cordialidade, da responsabilidade e do bom senso coletivo;

# Está abolido a regra única boba para todos, como ser rápido ou não no banho. Salve-se a individualidade, muitas vezes boba também.

Para Marli e Sérgio, pessoas que não me proibem de conhecê-los um pouco mais.

Sunday, October 15, 2006

Pescaria: encantos e desencantos.

Pescar nunca foi uma das minhas atividades favoritas. Por um bom tempo morei em cidades em que esta atividade era parte do cotidiano das pessoas. Lembro que quando ainda era criança, via os pescadores organizando todo o material para mais um final de semana com amigos. Na minha mente ficou a idéia de que pescaria sempre ocorre em grupo. Não sei se esta conclusão pessoal está correta.
Pois bem, no último sábado, dia nublado aqui em Belo Horizonte, liguei para um colega para saber o que poderíamos fazer no feriado "imprenssado" e ele respondeu: "vamos a um pesque e pague no inerior?" "Você vai gostar", garantiu ele.
Eu que pensava em ir a cinemas, restaurantes, shoppings ou mesmo dormir o dia inteiro, aceitei a proposta. Já me imaginava um verdadeiro predador de peixes em plena Minas Gerais. Pouco mais de meia hora depois de ter falado com o meu colega, estávamos a camino do tal "pesque e pague". Este foi o primeiro momento divertido do dia: descobrir o caminbo que nos levava até o destino final. Luiz, o meu companheiro de pescaria, falava das pessoas que víamos ao longo do caminho, da paisagem que se apresentava na estrada, da importância da pescaria para ele etc. Segundo ele, pescar faz um bem danado, nos deixa mas tranquilos e é um divertimento barato. "A gente sái do stress", complementou ele.
Chegamos ao tal "pesque e pague". Lugar mais bucólico não tenho visto nos últimos anos. Patos, galinhas, um grande lago, diversas pessoas conversando e um pequeno bar e restaurante. Mas, é tem um mas, a dinâmica do funcionamento do lugar tomou jeito de negócio, de comércio. Disto eu não sabia.
Chegamos, pegamos cada um o seu material (vara, anzol, iscas, copos, isopor e cerveja). Perguntei ao Luiz cadê as minhocas e ele deu uma gargalhada. Respondeu que peixe hoje não come mais minhocas.
Levei um susto. Peixe não come mais minhocas? Galinha não come mais milho? Coelho não come mais cenoura? O mundo tá perdido mesmo. Luiz explica que os peixes agora comem ração, assim como os cachorros e gatos. Tem, segundo ele, uma ração especial que garante a pescaria: a de sabor de tutti-frutti. Achei que ele estava mentindo, mas era verdade. Iniciamos a pescaria.
Outro detalhe me chamou a atenção: os pescadores não seguram mais as suas respectivas varas, há uma pequena argola de ferro chamada "secretária" que faz esta função. As mãos dos pescadores agora só se ocupam dos copos de cerveja.
Pergunto se ali tem muitos peixes (vou deixar de perguntar tanta coisa) e o Luiz responde: "claro, os donos repõem o estoque de peixes todos os dias. Tá vendo aquele reservatorio ali? É o lugar onde ficam os peixes que vem pra cá depois". Me senti mais burro ainda. Pensei que havia um lugar para a pescaria e que a quantidade de peixes não era garantida pela reposição do dono.
Tomamos duas cervejas e nada de pegar nehum peixe. Puxávamos as varas e não havia mais isca alguma. Os peixes aprenderam a comer sem serem fisgados. São os peixes-políticos. Reclamei com o Luiz que não havia peixe e ele pediu calma. Disse para não me preocupar pois os peixes iriam aparecer. Caso o dono perceba que não há estoque suficiente de peixes, ele libera mais. No pesque e pague é assim, ninguém sai frustrado.
Mais uma cerveja e nada de peixe. Fui ficando sonolento e deixei a vara estendida na tal "secretária". Nem olhava mais se havioa isca, pois tinha certeza que os peixes havia comido tudo sem serem fisgados.
Um peixe politicamente correto movimentou a vara de pescar do Luiz. Fizemos festa. Um peixão de aproximadamente, um sapato tamanho 42. Achei muito pequeno e falei para jogarmos no lago de novo e pegarmos outro. Isto não é possível, se você pesca tem que comer ou levar para casa. Pedimos para assar o tal peixe tilápia tamanho pé 42 e a cozinheira nos oferece outro já disponível na cozinha. Aceitamos. A fome era grande.
A pescaria está encerrada. Falo que quero continuar mas o Luiz diz que não podemos ficar apenas nos divertindo. Se pegar um peixe não podemos devolvê-lo ao seu habitat natural. É necessário comprá-lo. Fiquei surpreso com tal conclusão. A partir daí o pesque e pague transformou-se apenas em um bar e resataurante. As nossas varas, as iscas e os anzóis parados. Vontade de desobedecer as ordens não me faltou. Aproveitei para descansar, conversar com o Luiz e ver os pescadores de ilusão contentes com as suas práticas orientadas e baseadas no consumo apenas. "Como pode um peixe vivo viver fora da água fria"? O verso da música traduz um pouco a lógica do capital. O mesmo capital que estimulou momentos de interação enter eu e o meu colega.
Não pesquei nenhum peixe. Acho que não sou pescador mesmo.
Luiz, este texto é dedicado a você, pescador de bons sentimentos.

Saturday, October 07, 2006

Costurando alienação: quando o novo não aparece

Uma figura emblemática, curiosa e bastante popular venceu as eleições no domingo passado no maior colégio eleitoral do país: Clodovil, o apresentador de tv e estilista teve quase 500.000 votos desbancando do pleito personagens antigos e experientes da cena política nacional. Até aqui nada de novo.
Clodovil, como todos sabem e é amplamente alardeado na imprensa nacional, não tem um projeto político definido para o seu mandato, diz não saber como funciona o esquema de trabalho do Congresso Nacional e alardeia que desconhece quanto vai ganhar entre salários e “extras” durante o período em que estiver à frente da atividade parlamentar.
Deve saber, no entanto, que esta não é uma função gratuita, voluntária. A sua farta conta bancária (segundo ele mesmo) ganha agora um reforço com alguns “trocados” a mais. Sabe também que o seu cargo permite empregar algumas pessoas de sua confiança. A abstração da realidade tem os seus limites, claro. É necessário respirarmos um pouco de realidade de vez em quando.
Este personagem, tido por alguns como enigmático, foi eleito por muitos milhares de eleitores paulistanos debochando da própria homossexualidade e da política nacional. Conseguiu com isto, reproduzir em cadeia nacional de rádio e tv através do horário político obrigatório, fragmentos de atitudes que fazem parte do nosso cotidiano. As piadas, mesmo as de gosto duvidoso, fazem parte da nossa história. Os debates mais densos sobre preconceito e as propostas políticas deste então candidato, ficaram sem importância naquele contexto. Respirar um pouco de alienação nos faz bem.
As "pérolas" (asneiras mesmo) proferidas pelo Clodovil antes e depois das eleições surtiram um efeito devastador na percepção coletiva do que seja uma eleição séria, amadurecida, com debates mais elaborados sobre o papel da política na sociedade atual. Certamente ele não está só neste esfacelamento da seriedade que um processo eleitoral possa promover. Nós, eleitores ou não, clamamos de certa forma pela morte da seriedade dos temas em época de campanha política. Clodovil saiu na frente.
Em seu programa eleitoral as pautas se inverteram e as que abordavam temas mais instigantes e sérios como corrupção e propostas de governo deram lugar ao tom caricato e visivelmente jocoso de quem tinha como proposta apenas eleger-se para depois descobrir as trilhas do poder. “Brasília não será a mesma depois de mim”, falava o então aspirante a um cargo político, o Clodovil. Creio que ele foi tímido na sua assertiva. Desconfio que a política nacional não será a mesma depois da sua eleição.
Clodovil, o agora deputado federal provoca risos e fúria. É capaz de dizer com todas as letras que corrupção não se estabelece com pouco dinheiro. É preciso, na visão dele, ter muito dinheiro para que corruptor e corrupto se entendam. Traduz com propriedade a demência preconceituosa estabelecida socialmente que reproduz que os que carecem de mais dinheiro ou os que não tem uma conta-corrente mais suntuosa são mais vulneráveis à sedução do capital, venha ele de onde vier. Clodovil pode errar nas suas opiniões, ninguém o leva a sério. Este é o perigo.
Cumpre registrar o mérito dele ter vencido o pleito através de um pequeno partido político. Alguém conhece o PTC?

Em www.estuariope.blogspot.com , do meu mano Samarone, há um texto pra lá de interessante sobre o período eleitoral.

Dedico este texto a Aninha (Piu), que assim como alguns políticos, some, desaparece.

Tuesday, September 05, 2006

Uberlândia e o paraíso: reflexões sobre gente.


Uberlândia é o meu paraíso espiritual. Mesmo que a imagem de paraíso apareça como enfadonha algumas vezes (anjinhos quietos, organização impecável e principalmente, nada de pecados), ela contempla a calma, a coletividade e um amor maior pelo outro. O inferno tem lá suas seduções, claro!
Em Uberlândia posso chegar sem a menor cerimônia e passar o dia inteiro na casa de uma senhora simpática, bela e muito religiosa sem ao menos avisar que iria visitá-la. Conheço com mais propriedade apenas um dos seus filhos. No caso, uma filha.
Nesta casa é possível perceber que as relações humanas são cheias de significados e carinho. O dia dois de setembro foi marcado por músicas, comidas, conversas sobre temas os mais variados e por muita harmonia. Chovia lá fora e as águas da contemplação do outro inundavam uma residência do bairro Umuarama. Outras pessoas chegaram e participaram desta vivência coletiva. Há tempos não me sentia tão humano (nem sei se sou ao certo).
Em Uberlândia posso chegar no bairro Canaã a qualquer hora e ser recebido delicadamente pelas pessoas que moram neste endereço sempre com ar de festividade quer o tempo esteja bom ou ruim lá fora. Neste lar só há tempo bom. Louvado os que crêem no paraíso, pois ele existe.
Louvado seja eu que encontro em um churrasco na casa de uma família de japoneses o gostinho bom e seguro das boas amizades. Reflexão sobre a vida com Iahisoba (é assim que se escreve?) é sempre bom. Nesta casa que inspira bom humor e fraternidade conhecia apenas uma das netas dos anfitriões. A interação coletiva pasava pela conversa sobre vidas, sonhos e experiências particulares. Até o tema casamento foi compartilhado. Falo sobre isto no próximo texto.
Uberlândia e o paraíso têm os seus anjos. O que seria de mim se a passagem por Uberlândia não prestigiasse o suave teor alcóolico que brota da convivência pouco frequente com alguns amigos? Estes amigos são anjos da guarda mesmo. Guardam sempre um tempinho para bebermos umas e outras em barzinhos amarelos, verdes ou rosa. Guardam sempre uma conversa agradável para compartilharem com os amigos. Guardam ansiedades para terminarem as suas ativdades em andamento. Guardam sonhos que vão se construindo. Não guardam vaidades acadêmicas ou pequenas chateações cotidianas.
O paraíso apresenta um Deus (ou vários, sei lá!). Uberlândia também: o Deus da humanização das relações sociais e afetivas. Por que não estou morando lá ainda? Talvez porque o paraíso não seja para todos mesmo.

Para Cíntia e sua família. Para Akely e sua família. Para Tião e sua família. Para Rodrigo e Arley, minha família de alto teor alcóolico e fraterno. Este final de semana foi inesquecível.

Sunday, August 20, 2006

Quase um texto

Alguns leitores já sabem, outros ainda não, mas esta semana serei um quarentão. Estou quase lá. Por este motivo escrevo hoje sobre a perspectiva apontada pelo "quase", vocábulo que frequentemente está na nossa conversa diária e nos incomoda muito.
Sim, porque o "quase" parece sinalizar desmotivação, pouco empemho, fragmentos, inconclusão. O "quase" chega com gosto de impossibilidades. Não gostamos disso. O quase nunca é o todo.
"Eu quase perdi o horário", dizem milhares de amantes todos os dias aos seus parceiros. A falta de pontualidade pode apimentar a relação e permitir que as partes sintam mais falta uma da outra. Nem tudo está perdido. A espera é sempre uma possibilidade.
"O relacionamento quase acabou por conta disto", reclamam alguns quando há incompatibilidade de gênios entre as pessoas com as quais mantém relação de intimidade. O "quase", neste caso, significa que algo solidifiocou-se, ganhou dimensão maior: a partilha da vida em comum.
"Estou quase ganhando nenêm". Quer certeza maior de que o termo "quase" enquanto visão fragmentária de algo sem conclusão não se estabelece? Aqui, o "quase" endossa que o bebê já ganhou uma identidade própria, já tem uma mãe, uma agenda marcada para o dia do parto, padrinhos escolhidos etc. O "quase" é só para dar um certo charme no diálogo com o outro.
"Quase ganhamos o campeonato". Podemos ser os últimos colocados na pontuação geral, mas nada impede que o sonho coletivo de tornar-se campeão chegue para todos. O "quase", que significa em diversos momentos do esporte uma impossibilidade real de vencer, mostra a possibilidade de uma melhora na auto-estima de diversas pessoas.
Eu quase escrevi o texto como pretendia originalmente. São quase uma e meia da madrugada desta segunda feira de agosto e estou quase dormindo. Acredito que os meus parcos, mas fiéis leitores me entenderão. Segue o texto na forma em que se encontra. Um "quase" texto.
Continuo aguardando as contribuições dos amigos e colegas para dividirmos o espaço do blog.
Para Humberto, um fluminense quase mineiro.

Tuesday, August 15, 2006

Coisinhas da Metrópole (I)


Morar e viver na metrópole tem características do movimento acelerado, das confusões cotidianas, dos ritmos desencontrados, da falta de tempo para desenvolver todas as atividades que pretendemos. Quantos lamentos tenho ouvido das pessoas que estão na Metrópole! Tudo parece o caos e o discurso saudosista dos modos de vida de antigamente ganha a admiração de muitos.
“No meu tempo”, dizem alguns, o velho era respeitado. “Naquela época”, reforçam outros, a palavra valia mais do que qualquer coisa. “Quando aqui não tinha nada disto”, registram outros, todo mundo conhecia todo mundo. E as frases que dão o tom de como era a vida corriqueira na metrópole de ontem seguem seduzindo e encantando as pessoas. As palavras dos velhos nos dão o tom de que muita coisa mudou neste “mundo de meu Deus”, só para citar mais uma frase bastante comum utilizada atualmente.
Fico aqui a perguntar se realmente as coisas mudaram ou apenas não percebemos que ainda hoje podemos dizer que expressões como “no meu tempo” ou “naquela época” ainda não perderam o seu prazo de validade. Vou enveredar pelas pequenas experiências cotidianas para explicar a minha dúvida sobre a validade das expressões citadas.
Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, um dos estados mais ricos do país. Nela vivem mais de dois milhões de habitantes. Nesta cidade o trânsito é maluco, há sérios problemas de habitação e de saúde, os índices de violência assustam e a as pessoas adoram comer pão-de-queijo. Muitos dizem que não conhecem sequer os seus vizinhos. Que pena, também não conheço os meus, nem esboçamos o mínimo de intimidade a não ser os velhos (mas importantes) cumprimentos formais.
Mas há um menino chamado Gabriel, que deve ter entre 7 e 9 anos, que traça caminhos diferentes das formalidades e imediatismo. Ele é meu vizinho. Entra na minha casa sem pedir licença e vai logo perguntando se não tenho docinhos para dividir com ele. Não sei de onde ele tirou a idéia de que tenho docinhos em casa, mas vai entrando sem cerimônia, perguntando o que estou fazendo, para onde fui, onde está a minha família etc. Dia destes, sem nenhuma cerimônia entrou no meu carro, conversou até dizer chega e me perguntou pra onde eu ia. A metrópole permite informalidade e intimidade.
O menino Gabriel quebra as relações formais, estressantes, angustiantes. Ele muitas vezes sequer fala comigo quando algo o aborreceu, mas de vez em quando comemos algumas balas juntos e esboço um início de convivência mais próxima com os seus pais. Coisinhas da metrópole.
Depois de um dia de trabalho de campo para a pesquisa de doutorado que estou desenvolvendo, paro para tomar um caldo em um destes centenas de botecos que funcionam em BH. Já passei por lá umas três ou quatro vezes e o dono, que me viu algumas vezes de longe grita “Paulinho”. Parece que somos velhos conhecidos e chego a acreditar nisto. Sai do balcão e vem me cumprimentar e perguntar como foi o dia, o que fiz e onde anda o meu amigo que foi lá comigo da última vez. Fiz um esforço para me lembrar do tal amigo e vejo que o dono do boteco esta bem bom de memória. Havia um amigo comigo da última vez que estive aqui? Pensei comigo.
Para esboçar um papo com o dono do bar, perguntei-o sobre o horários de funcionamento do local e ele disse que abre às 17 horas e fecha por volta de meia-noite todos os dias. Mas, complementa ele, “quando bate a saudade da mulher, eu fecho qualquer hora. Hoje é um dia que eu vou fechar mais cedo pois estou com saudade da patroa”. Apressei a colherada e terminei de tomar o meu caldo para não atrapalhar o romance do velho proprietário do boteco que foge do tempo padronizado de funcionamento de bares e da sedução do lucro em ir até o último cliente e inventa um outro tempo. O tempo das pessoas. Coisinhas da metrópole.
No meu bairro há uma banca de revistas bem próximo de onde moro. É daquelas com aspectos ainda mais antigos, quadradona, sem geladeiras para a venda de sorvetes, com poucas opções de revistas, não há livros para a venda e fecha bastante cedo.
Fui comprar jornal em um destes finais de semana nesta banca e não tinha dinheiro trocado em mãos. Voltei sem o exemplar? Claro que não. A mulher do jornaleiro disse que não havia problemas, que poderia pagar depois, pois eles já me conhecem. Me conhecem? Perguntei a mim mesmo. “Você passa aqui todos os dias pela manhã, pode pagar depois, não precisa ser amanhã. No dia que você quiser”, enfatizou a mulher.
Ah, meu Deus, pensei, como estas coisinhas da metrópole são boas para recompor o organismo e nos fazer acreditar no outro. Quem dera os bancos tivessem esta mesma flexibilidade que os jornaleiros me permitiram. Acho que leria mais. Se o tempo das aulas, da pesquisa e da produção científica se amparassem na teoria do dono do bar, descansaria mais. Se me permitisse dividir mais docinhos e intimidades com o outro, com certeza amaria mais. O “naquele tempo” é hoje, basta olharmos com um pouco mais de atenção.

Este artigo seria originalmente o primeiro do blog. Depois ficou perdido el algum lugar. Dedico-o a Adriana Angélica, que conheci “naquele tempo” do mestrado e que hoje desenvolve a sua pesquisa de Doutorado sobre a memória dos velhos de BH.

Saturday, August 12, 2006

Sorvete, lembranças e avó

Um sorvete traz muitas lembranças. Cheguei a esta conclusão após sair dia destes para aproveitar um dos poucos dias de calor que tem feito aqui em BH. Fui colocando diversos sabores em um pequeno recipiente para ver no que a mistura ia dar. Qunado cheguei quase ao final do balcão e as opções estavam no fim, vi um pote escrito "Ameixa". Olhei de novo, respirei fundo e lá estava eu caprichando na medida da bola e viajando no tempo por causa de uma bola de sorvete.
Explico: desde que eu era menino (ih, os anos passaram rápido) costumava ir com a minha avó materna tomar uns sorvetes após a missa dominical ou mesmo nos finais de tarde em qualquer dia da semana. Eu, indeciso como ainda permaneço, passava um tempão escolhendo se queria sorvete de tapioca ou de siriguela, se misturava sorvete de tamarindo com milho verde. Tempos em que eu morava no Ceará.
Depois vinha a boa velhinha (todas as avós são) e dizia sem nehum vacilo ou indecisão: "quero o meu de ameixa". Uma dezena de opções e ela dizia sempre a mesma frase: "O meu é de ameixa". Depois percebia que ela olhava curiosamente para ver se havia pedacinhos da fruta no seu pedido. Estes momentos não esquecerei jamais. O neto indeciso que saboreava fragmetos de diversos sabores e a avó decidida, que não se rendia aos apelos das demais opções de sabores de sorvete ofertados. "Ameixa faz bem", dizia ela. Concordava sem nem saber o porque.
Depois fui incorporando o sabor escolhido pela minha avó ao meu paladar. O sorvete com sabor de ameixa sempre está entre as minhas opções favoritas até hoje. Tem um sabor de carinho de vó. Faz bem mesmo.
Para não perder o costume, nesta última degustação de sorvetes que fiz há poucos dias, deixei a bola com sabor especial por último. Anos se passaram, erros cometi, acertos esbocei e percebi que um simples sorvete pode modificar planos, alterar humor, fomentar a suadade e estimular a memória. Ainda sinto o gostinho da interação com a vó Zeneuda no ar. Continuarei falando de goluseimas e pessoas.

Para Vó Zeneuda, que não toma mais sorvete comigo. Para Dona Noemia, que sempre tem uma boa conversa quando almoço em sua casa.

Monday, August 07, 2006

Lugares, "estranhos" lugares. Por Thiago Machado.

Viajar é sempre muito bom. Pra longe, pra perto. Pra cidades grandes e pequenas. Pro mato e pras metrópoles. De carro, de ônibus, de avião, de trem. Só não sei de navio, porque nunca viajei. Nem posso, ia ficar mareado.
Tive de ir a Alvorada de Minas, umas duas semanas atrás. Alvorada de Minas?? Onde diabos é isso? Essa é a pergunta que todos me fazem. Alvorada de Minas é uma cidade minúscula, de uns 3 mil habitantes, pouco depois da Serra do Cipó e de Conceição do Mato Dentro, a uns 200 km de Belo Horizonte. Pertinho! Ônibus às segundas, quartas e sextas, uma vez por dia, que leva umas seis horas pra chegar, porque para em todos os lugares.
Até Conceição do Mato Dentro, de fato era pertinho, tudo era familiar. Passando por Lagoa Santa, pela área dos acampamentos mais populares da Serra do Cipó, por caminhos que 10 entre 10 belo-horizontinos conhecem. Conceição – forma abreviada que os mais íntimos com a cidade usam, inclusive a placa – também é um lugar familiar, e próximo. Estando lá, eu sabia ainda que estava nos arredores da metrópole mineira.
Paro num posto de gasolina em Conceição para comprar água e me informar sobre como chegar a Alvorada (já tenho intimidade também), pois nunca tinha nem ouvido falar desse lugar. O frentista me explica – tenho um pouco de dificuldade de compreender, é incrível como o sotaque pode mudar tanto num raio de 140 km – que basta seguir a própria rua do posto por um tempo e eu verei uma saída à direita. “Mas não entre nessa ainda”, ele se adianta, “tem outra mais à frente que só dá em Alvorada, é mais fácil”. Pelo que eu entendi, a primeira serve para ir a outros lugares e eu poderia me confundir. Tudo bem. “Essa estrada lateral é uma estradinha meio ruinzinha”, ele me adverte. Eu pergunto se lá é chão. Ele fala “não, imagine, aqui na frente mesmo já começa a estrada de terra!! Daqui pra Alvorada é tudo chão!”. Que ótimo, eu penso. Mas o Mille é um bravo.
A estrada de chão não chega a ser ruim, e logo à frente passa a primeira entrada à direita, que eu evito. Mas a outra demorou muito a chegar, e eu vejo três homens na beira da estrada, esperando não sei o quê. Acho melhor perguntar e paro. Aqui começo a sentir um certo choque. Eu sinto medo de parar! Passava um pouco das 10 da manhã, horário em que mesmo em BH não se sente (tanto) medo... mas nos habituamos a desconfiar de tudo e, sobretudo, de todos. Não abro muito o vidro e percebo que é um pai e dois filhos adolescentes. Pergunto como chegar a Alvorada, e ele confirma que a próxima entrada é a correta. Agradeço e prossigo, e eles ficam na poeira do meu rastro. Então, me dou conta de que o ambiente em que eu estou é completamente diverso do meu habitat natural. É um lugar basicamente rural, antigo, que ainda não sofreu as conseqüências da urbanização. Conceição estava na fronteira: principalmente os jovens se comportam como os de Belo Horizonte, pode-se notar que as regiões mais pobres se assemelham um pouco às periferias da região metropolitana. Mas, saindo da cidade em direção ao Serro, naquela estrada de terra, entrei no “Brasil profundo”, à parte de tudo o que se passa nas urbes.
Por mais que se leia sobre isso, é difícil não sentir um estranhamento ao entrar nesse ambiente. A coisa fica mais evidente quando saí dessa estrada “principal” e entre na estrada vicinal, cujo único objetivo é levar à esquecida Alvorada de Minas. Não se vê nada nem ninguém. Não há pessoas, carros, quase não há gado.
Uma bifurcação mais à frente me deixa em dúvida. Não há ninguém para me orientar. Espero um pouco, com o carro ligado, completamente sem saber o que fazer (“minha nossa, e se o carro estragar aqui??” foi um dos pensamentos aterrorizantes que me acometeu, passarinho fora da gaiola). Enquanto pensava, comia o que sobrou do meu Ruffles, e ao mesmo tempo achava engraçado o quanto aquelas pseudo-batatas artificiais destoavam da situação, bem como o celular inútil e sem sinal.
Lá embaixo, vi um cachorro. “Deve ter gente”, pensei. De fato, do meio do mato saiu um senhor e uma criança. Fui até eles, um sol forte de inverno dissipando o frio. Parei o carro próximo. Eles me olhavam desconfiados, e eu mais ainda. Afinal, eu estou treinado para esperar assaltos em Belo Horizonte, não posso evitar. O velho parecia muito decrépito, e ficou me olhando e investigando o interior do carro empoeirado com curiosidade. O menino olhava mais de longe, com uma cara mais desconfiada ainda. A situação me deixou tenso, o velhinho não falava direito, mas me respondeu o caminho correto.
Mais um pouco de chão e Alvorada aparece. Uma igreja no topo de um monte, com algumas casas ao redor, escondidas entre muito verde. Tão perto da metrópole, mas tão isolada. A capilarização da rede de ocupação do território, pensei.
Assim que entrei na cidade, todos olharam. Por um momento pensei que era porque o carro estava muito sujo de terra e poeira, mas depois lembrei que todos os carros chegam assim e o estranho era a minha própria presença. Eu tinha que procurar o cartório da cidade. Algumas mulheres estavam nas janelas conversando e eu parei para perguntar se tem cartório na cidade (deveria ter perguntando “onde é o cartório?”, não ficaria tão evidente que eu pensava que não tem nada lá), e a resposta foi “sim, fica na praça!”. Óbvio.
A praça é onde fica a igreja (!), mas não achei cartório nenhum. Ao me ver passando em baixa velocidade, com cara de interrogação, as pessoas que estão na rua perguntam, cordialmente, se eu procuro por algo. Por fim, encontrei uma casa trancada em cuja fachada tinha uma placa “Cartório de notas e registro civil”. Mas trancada! Desci, com minha contínua cara de interrogação. Nisso, um senhor sobe a rua e diz “a dona já vai te atender!”.
De fato, em seguida sai da casa ao lado uma senhora, com cara de dona-de-casa, que parecia que estava fazendo o almoço. O cartório funciona numa casa antiga, e ela acumula funções de dona-de-casa e tabeliã, ou como quer que se chame quem tem cartório. Eu, me sentindo em outro país, expliquei cuidadosamente o que eu queria – as regras de convivência podem ser bastante diferentes.
Ela disse que faria a certidão que eu queria, mas que era pra eu voltar daí a um pouco. Não sabia o que fazer naquela cidade, mas saí andando. Quando eu cheguei à cidade, tinha sentido angústia. Sempre que estou nessa situação fico me imaginando naquele contexto, como se eu tivesse sido forçado a viver ali pra sempre. E isso me causou extrema angústia. Aquele lugar isolado, em si mesmo, no meio do nada, rural, com pouca gente... me senti sem ar. Depois, percebi que praquelas pessoas que nasceram ali, estava tudo bem. É claro que a influência do mundo “exterior” se faz sentir pelos meios eletrônicos de comunicação – TV e rádio, é claro. Mesmo porque eu pude ouvir uma adolescente, enquanto limpava a casa, ouvindo uma das músicas americanas da moda, dessas que tocam na Jovem Pan. E isso era contrastante com o lugar. Não sei até que ponto, com o passar do tempo, o que vai mudar; afinal, essa característica rural parece sobreviver somente porque ainda há pessoas de outros tempos. Tenho a impressão de que quando essas pessoas morrerem e os jovens de hoje forem os adultos, o isolamento vai fazer cada vez menos diferença, talvez o asfalto chegue, a internet...
Mas por enquanto não era nada disso. Por enquanto, um homem perguntou ao outro na rua se ainda tinha boi para vender, e ele informa que não, chegou atrasado: ontem mesmo matou dois e já vendeu tudo. Que Orkut que nada.

Tuesday, August 01, 2006

Ouvi por aí...


Ouvi por aí e começo a desconfiar que estas frases fazem certo sentido:

*Acho que vou votar na Heloísa Helena. (Com o atual quadro político não há muito o que esperar. Vamos ver o que acontece. )

*Meu dinheiro não dá pra nada. (Precisa comentar?)

*Aposto como ninguém sabe mais qual foi a última CPI. Os sanguessugas apareceram agora e pronto.

*O Corinthians perdeu, mas vai melhorar. (Se piorar é melhor extinguir o "timão").

*Dunga? (no comando da seleção). Sou mais a Branca de Neve.

*A bebida (alcóolica) está acabando comigo.


Até já. PH

Outro tempo

Moro em um pequeno prédio de um ainda pacato bairro de Belo Horizonte. Já vislumbramos uma quebra certa quebra neste ar bucólico com registros de assaltos, agressões e furtos de carros com mais frequência nos últimos anos. Sagrada Família é o nome do bairro e muitas ruas tem nomes de santos, como São Joaquim, São Lucas, São Roque e assim por dianta. O tom religioso está posto.
Então, para combinar o meu estilo pacato e certa santidade que me são próprios (escrevi esta frase apenas para provocar os amigos) optei por morar nesta região que traduz alguns costumes e atividades que parecem perdidos na trilha da chamada modernidade. Relações humanas cordiais, próximas e carinhosas ainda estão presentes com muita propriedade no cotidiano dos moradores do Sagrada Família.
Várias singularidades me chamam a atenção nas relações que as pessoas estabelecem no cotidiano deste bairro. Uma delas é a comunicação oral mais demorada, pausada, intensa. As pessoas conversam e vão além do simples "oi" ou de expressões corriqueiras como "com licença" e "Bom-dia" (que diga-se de passagem são extremamenmte importantes)". Basta dar uma volta no quarteirão e ver que as pessoas estão conversando. A internet parece não ter um peso tão forte aqui.
Da minha janela vejo os papos rolando diariamente. Parece que ninguém está atrasado ou cheio de tarefas por fazer. Esquisito, não? Aproxima-se das 14h e todos os dias um jovem grita: "Ô Rafael!!!" e o outro jovem sai da sua casa para conversarem na esquina a tarde toda com diversos outros colegas. São os guardiôes da rua.
Estes dias peguei um táxi para ir até uma agência dos correios. O carro leva exatamente 1min para chegar do ponto de atendimento até a minha casa. Mais rápido que a minha descida até a portaria. Os taxis pertencem a uma cooperativa de 30 condutores, todos nascidos e criados no bairro e o assunto das conversas sempre é o mesmo: a família que viu o bairro crescer, a praça que não existe mais, a mulher que vende empadas na esquina etc, etc. Se eu tivesse mais dinheiro só circularia de táxis com os motoristas da "Petrotaxi".
Como adoro conversas sobre mudanças no bairro e na cidade, vou logo começando o papo com a frase: "Você é morador do bairro?" (um condutor já havia me dito que todos eles são) e aí pronto, é só esperar a corrida terminar que até lá eles falam de família, do próprio carro, das ruas, das mulheres, futebol e deles mesmos.
Ontem quase perdi a paciência (ou o que me resta dela). Apressado para chegar ao correio, automaticamente falei a frase que inicia a minha conversa com os taxistas e o motorista falou tanto que diminiu a velocidade para terminar o assunto. Quando reforcei o pedido para acelerar um pouco, ele retrucou que "o correio não iria fechar naquele momento. Daria tempo demais para postar as minhas correspondências"."Pra que a pressa? Faz mal pra gente viver nesse corre-corre, finalizou". E tome papo. Desarmei o nevorsisimo.
Ao desembarcar ele percebeu que eu estava meio sem grana (sempre estou) e falou sem nenhum medo: "se tiver apertado me fala que passo depois na sua casa para pegar a grana". Agradeci a gentileza que nehum banco, financeira ou empresa de telefonia faz e optei por um desconto.
Este motorista morou 10 anos nos EUA, guarda a carteirinha internacional de motorista como um troféu e sempre que pego o seu táxi ele mostra o tal documento. "Nesta época ganhei muito dinheiro. Hoje já estou velho para estas aventuras", falou.
Informou que o bairro no qual moramos era uma grande fazenda e os lotes eram muito baratos, o que motivou que diversas famílias comprasem imóveis na área.
Em outros pequenos percursos de táxi outras histórias de vida e fatos comuns do dia-a-dia foram relatados. Volto ao assunto qualquer dia.

Para o Auro, sua sagrada família e Dona Joice, que gentilmente me apresentaram o bairro.

Monday, July 31, 2006

Chegando...

Agosto chegando e com ele alguns textos de amigos que prometeram enviar as suas contribuições para este espaço virtual.
Então, até o meio da seman creio que teremos coisas novas. Até já.
O estresse tem me consumido nos últimos dias. Papo para daqui a pouco.
Abraço afetuoso do PH

Tuesday, July 25, 2006

O circo: pequenas observações sobre o espetáculo.

O circo: pequenas observações sobre.

Cirque du Soléil. Pequena temporada no Brasil (diga-se Rio de Janeiro e São Paulo, as representações da metrópole). O sonho de consumo de muitos. Já não podemos utilizar outro termo que não seja consumo quando estamos falando deste circo. Não é mais o sonho de descobrir o palhaço, o mágico ou o malabarista. O circo, o lugar do congraçamento coletivo, da diversão, da alegria poderia ser mais do que consumo. Neste caso, não é. O não consumir significa não ter direito ao encantamento.
Mesmo assim, gostaria de estar bem estruturado financeiramente para ver o espetáculo midiático com todas as performances impecáveis dos seus integrantes e o show de luzes, cores e música prometidos. As contradições do capital me seduzem também.
A "nova" roupagem do circo apresenta várias curiosidades: uma delas é a separação nítida dos espectadores por renda. Os que puderem pagar mais (muito mais) terão assentos mais próximos do palco, estarão alimentados por um coquetel antes do show, teraão vagas exclusivas no estacionamento e prioridade nas compras de souvenirs e artigos exclusivos do Cirque Du Soléil.
Os que não puderem arcar com estes custos ficarão com os famosos "saldões de estoque". Os grupos menos privilegiados economicamente levarão os seus binóculos para ver tudo de perto e farão lanchinhos antes de ir ao espetáculo. A sociedade faz os seus arranjos, mas não elimina de fato as suas contradições. Ah, e para clientes "especiais" de um banco patrocinador do espetáculo houve a a venda exclusiva de ingressos antes da abertura para a comercialização ampla. Reserva de mercado cheia de status.
Creio que os antigos circos que prestigiei como o " Thianny" e suas águas coloridas não abriam tanto a promoção da divisão dos seus espectadores meramente pelo poder aquisitivo. Sim, haviam os camarotes, as cadeiras e as arquibancadas mostrando certo público para cada tipo de assento. Mas o carrinho de pipoca era de todos, a distribuição de ingressos para várias pessoas da cidade despertava o encantamento da meninada e mantinha um vínculo de intimidade com a vizinhança, a venda de meia entrada era garantida a quem fosse estuante sem número definico de ingressos desta categoria por dia. Agora estamos falando de direitos, que muitas vezes são ofuscados pelas luzes da mídia.
Na página oficial do grupo há uma pretensiosa e ousada definição para ele próprio: "criado como um antídoto à violência e ao desespero tão prevalentes no Séc XX, este espetáculo fanatsmagórico apresenta uma nova visão de vida urbana, transbordante de otimismo e alegria".
Visão esta que se apagará certamente na saída do espetáculo. Uma nova visão de vida urbana contemplaria mais do que o proposto na chamada do espetáculo.
Mas circo é entretenimento, graça. Então o espetáculo internacional e glamouroso é circense. Ou não? Gostaria de ir.

Para os amigos malabaristas do orçamento financeiro que às vezes não chega ao mínimo. Para a magia de celebrar com eles a diversidade e os desencontros do dia-a-dia.

Estou aguardando as contribuiçoes dos amigos e colegas com o envio de textos para o blog.

Friday, July 21, 2006

O menino e o saco de arroz - Por Arley Halley

Um dos momentos mais importantes da minha vida foi quando entrei para a escola. Para ser mais exato, há 16 anos e 7 meses, em algum momento perdido do ano de 1990.
É engraçado como a tristeza e a nostalgia me tomam quando lembro deste dia: o preocupar com quase nada, a proteção e o carinho daquela mãe carinhosa que ficara a me olhar pela fresta da janela sorrindo e sempre acenando quando pro seu o meu olhar desviava, como se (mas era bem isso mesmo) dissesse com a voz de ternura que sempre teve: “não te preocupes, estou aqui”.
Falar sobre minha mãe é sempre tão fácil, basta me embebedar com a mesma meiguice daquela senhora de hoje 49 anos sofridos. Prometo voltar a este blog em breve para falar dela. É que hoje me deu vontade de escrever sobre um amigo que conheci naquele mesmo dia, o dia em que entrei para a escola, o dia em que me dei conta da importância de minha mãe, o dia em que descobri a amizade e as rugosidades do viver (ainda que só mais tarde pudesse ter me dado conta de tudo isso).
Jeremias era um mulatinho de sorriso difícil de se mostrar, barrigudinho e baixinho como eu. Eu o conheci neste primeiro dia de aula, mas demorou algum tempo até que ele pudesse soltar sua primeira resposta à minha insistente pergunta: – “Qual é seu nome”? “Jeremias”, disse ele. Eu sempre gostei de fazer amizades, e acho que venci pelo cansaço aquele garoto que insistia em não me responder nada. Via-se um garoto que não era alegre como os outros, as mulheres (aquele tanto de mãe que ficavam esperando seus filhos saírem da escola) diziam que ele era de uma família complicada, de “mãe alcoólatra e tudo”. Demorei para entender o que era alcoólatra e até hoje não sei o que é esse “tudo” com que terminavam a qualificar a família daquele que era simplesmente um “amigo mudo” que não gostava de muita conversa.
Era impressionante a relação desse meu amigo com os sacos de arroz. Ele os utilizava pra tudo, para carregar cadernos, para levar os poucos lápis de cor (a maioria já gastos. Provavelmente ele os aproveitara de alguns de seus irmãos mais velhos) e até mesmo serviam como guarda-chuvas – os sacos. Eu via com diversão a cena de seu irmão mais velho ir buscá-lo com um saco de arroz aberto tentando protegê-los em dia de chuva enquanto pisava descalço nas poças dágua que se formavam – sim, ele não tinha sapatos, nem mesmo daquele chinelinho havaiana que naquela época, diferente de hoje, era baratinho, baratinho, o mesmo que minha mãe usava. Talvez para que eu pudesse ter meus pés aquecidos em sapatinhos de couro e meus cadernos e lápis novos protegidos por uma mochila novinha.
Pouco tempo depois, acho que um ano talvez, num desses passeios que sempre fiz com meu pai às margens de um rio perto de minha casa, encontrei Jeremias, que ainda sem palavras mas agora com um sorriso enorme no rosto, se punha a brincar numa ponte de pau (que nem mais existe senão na minha memória e de alguns poucos, fora levada por um enchente cinco anos depois) debruçando sobre o pára-peito... Quis correr até ele, fui repreendido pelo meu pai: “Vamos embora, se esse menino cair no rio ainda vão falar que fui eu quem empurrei, não quero depois tentar catar esse muleque nágua”.
Há menos de um mês, no refeitório de um hospital de uma cidade vizinha à minha, onde meu pai encontrava-se na UTI vi novamente meu amigo Jeremias, agora mais falante. Foi ele quem deu início à nossa conversa:
– Ué, o que faz aqui?
– Meu pai, está na UTI.
– Qual o nom dele?
Respondi à sua pergunta. – Não se preocupe, ele é meu paciente, estou cuidando bem dele.
Jeremias é enfermeiro dos bons, tão humano que só as desumanidades da vida poderiam tê-lo deixado assim.
“Tem um amigo seu que está cuidando muito bem de mim. É atencioso e tudo que eu peço ele faz de bom grado” me disse meu pai em uma visita um dia depois. “Parece que eu o conheço de algum lugar, estou tentando lembrar dele, mas não consigo...” Melhor não, meu pai. Ás vezes não lembrar de muita coisa faz um bem danado.
À minha mãe, pelo carinho e pelos sapatinhos da vida sempre tão quentes; ao Jeremias, pelo cuidado com meu pai; ao meu pai, que me faz sentir tanta saudade desde quando resolveu romper o pacto e ir sem me avisar; ao irmão mais velho de Jeremias que, segundo amigos, também se despedira depois de mergulhar fundo no rio. Que estejam, ele e meu pai, melhor do que estamos agora.

À meu pai:
(...)Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto
nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.(Carlos Drummond de Andrade)

Aguardando Contato

Estimados leitores,

a proposta inicial do blog era que alguns textos fossem escritos também por alguns colegas e amigos. A idéia começa a tomar forma. Daqui a pouco teremos um texto inédito neste espaço. Tenho certeza de que o menino de Iibiá, o autor da crônica desta semana, escreverá coisas lindas como sempre faz. Estou aguardando contato conforme ele prometeu.
Nas mensagens postadas com os comentários sobre os textos veiculados não aparecem os e-mais dos respectivos remetentes. Agradeço o carinho de todos. Abração do PH

Wednesday, July 19, 2006

O sexo nosso de cada dia

Descobri que já tenho leitores assíduos. Pensava em aposentar o blog, mas aqui, acolá vejo que um amigo ou colega leu o texto atualizado. Então volto à cena. Também confesso que fiquei viciado em blog.
Iria escrever no texto de hoje algumas particularidades aqui do bairro em que moro, mas resolvi ver algumas notícias na internet, ler alguns textos e acessar a minha caixa de e-mail que só tem spam. Percebi então que só há duas pautas em andamento na semana web: o julgamento da jovem alemã e seus dois comparsas e uma série de debates sobre aquilo que move a humanidade desde que Adão era Adão e Eva era Eva: o sexo.
O próprio Adão não se contentou em comer só a maça. (he, he , he. Desculpem mas tem horas que a minha inspiração não dá sinais de vida).
Pois bem, no meu tour cibernético encontrei algumas preciosidades sempre relacionadas ao tema sexo (quero ver se agora o número de leitores deste blog não aumenta).
A primeira "notícia" que me chamou a atenção foi um grupo de discussão que trazia como pauta o depoimento real exibido por uma novela de uma senhora de 60 e poucos anos que ouviu uma música do Roberto Carlos e pasmém, gozou! Ela falou que esta foi a primeira vez que tinha sentido esta sensação e que agora se virava sozinha, não precisava mais de homem para a sua satisfação orgasmática. Dizem que um pretendente planeja dar a ela uma caixa com todos os CDS gravados pelo Rei. Haja fôlego! Sexo é bom até para vender discos.
Com isto fiquei pensando nas músicas que podem embalar os encontros ardentes de diversos amantes. O "côncavo e o convexo", a música que marcou a narrativa da senhora citada já está muito manjada. Quem sabe sabe a do Guilherme Aantes que diz que "dentro da gente tem um fogo ardente e nada vai apagar". Deve ser uma fogueira, pois fogo, fogo mesmo, destes do dia-a-dia a gente consegue apagar.
Visitei outra página na internet e a chamada com letras garrafais dizia: "Você tem sexo com qualidade? Faça o teste já!". Imagunei logo um monte de bobagens, mas o tal teste era só a confirmação de que todos nós temos que ter a mesma normatização de condutas em relação a todas as coisa, inclusive à vida sexual. Quantas pessoas devem estar fazendo o tal teste agora e se sentindo as "experts" no assunto ou chorando pelos cantos por não ter boa qualidade neste quesito. Ainda bem que o teste é teórico, dá pra mentir muito e se sentir muito bem no final.
Mais uma página da web visitada e no meio de guerrras, morte do Raul Cortez, sanguessugas e venda da Varig, além do caso da garota que matou os pais, alguém divulgou que a filha da Gretchen (piripiri,piripiri, piripiri) pode ser bissexual e que em breve ela (a filha) falará sobre o assunto. Nem vou comentar. Naõ sei porque ela vai falar sobre o assunto.
Para encerrar este texto picante (he he he), li que o Brasil parou para ver a Ana Paula Arósio fazendo um streap tease na novela das oito (a mesma que veiculou o depoimento da senhora de 60 anos) antes da lua- de- mel da personagem encenada por ela. Imagino que nesta hora crianças foram expulsas da sala e a libido de milhões de pessoas subiu neste momento pois segundo o tal site, houve um pico de audiência na novela nesta hora. O autor da novela falou que a cena não mostrou nada, que o ambiente era escuro e não era possível ver tudo. Quem quer saber disto? Escurinho, um casal, a gostosona da novela presente. Sexo já! A imaginação fala mais do que muita visão.
Termino com uma frase que vi em frente a um motel: "Rapidinha, R$ 5,00". Até hoje fico a pensar o que é esta tal "rapidinha" na qual o aviso se refer. Demoro até a entender as coisas. (he he he).

(alerto aos fiéis leitores que os sites visitados foram todos de notícias e formadores de opiniões. Agora vou visitar os sites hots para buscar mais insipiração. Tchau, tá tocando uma música do Roberto aqui perto)

Para os amantes do sexo, do amor, da música, das novelas, de qualquer coisa.

Saturday, July 15, 2006

Canudos

São Paulo vive "Guerra de Canudos", diz o governador daquele estado, Cláudio Lembo. Esta é mais uma manchete estapada nos jornais deste final de semana.
A declaração serve, no mínimo, para que algumas pessoas se perguntem o que foi a tal "Guerra de Canudos". Ponto positivo para a frase descabida do governante. Em alguns meios de comunicação já saíram encartes tecendo algumas informações sobre o movimento político/religioso liderado por Antonio Conselheiro no Séc XIX e que teve como desfecho milhares de mortes. Sonharam e morreram. Hoje não há tempo para o sonho.
O governador de São Paulo poderia cercar-se de conselheiros mais eficientes e ao invés de "soltar o verbo" com espressões rasas como estas, discutir com mais propriedade os movimentos sociais ou messianicos ocorridos no Brasil. Um pouco de leitura o ajudaria a ir além das bobagens verbais cometidas por ele e possibilitaria ampliar o conhecimento sobre o história brasileira.

Para Marluce. Historiadora que sumiu, desapareceu da minha vida sem deixar pistas. Estou esperando a sua volta.

Afastamento

Diversos jornais divulgaram a mesma manchete estes dias: Cirurgia afasta Ronaldo (o fenômeno???) dos campos (de futebol???) por 30 dias.
Interpretação da notícia para quem gosta de futebol: Ronaldo ficará afastado dos campos de futebol por mais 30 dias. Há algum tempo ele está afastado e não se sabe quando retornará a ter interesse pelo assunto. Não há comerciais previstos para serem gravados nos próximos meses. Para ocupar o tempo livre fará uma cirurgia no joelho.
Fui!

Para William, que é doido por futebol.

Thursday, July 13, 2006

"A arte de viver segundo"...

Consultório médico. Tarde de inverno em Belo Horizonte. Vários pacientes esperando o profissional de saúde que insiste em chegar atrasado mesmo que todos os funcionários da clinica e diversos pacientes saibam que a demora no atendimento é apenas parte de uma cultura do demerecimento do outro.
O turno da tarde é para os que possuem convênios médicos. O turno da manhã é para os que pagam a consulta à vista, "cash". Neste caso o médico se transforma, fica pontual como a rainha Elizabeth. Quer ver a cor do dinheiro ou do cheque imediatamente. Não é disto que quero falar agora, mas o cenário que deu início a esta crônica é um consultório médico.
Não sei porque consultórios médicos e salões de beleza disponibilizam tantas revistas banais e antigas para os seus clientes. talvez para refrescar a nossa memória (é uma possibilidade). Dia destes folheei rapidamente uma delas que falava do caso PC Farias. Estávamos no desgoverno Collor. Me senti mais velho do que imaginava. Participei do "fora Collor" e agora estou sem ânimo para o "fora Lula".
Pois bem, em uma destas revistas disponibilizada para que a nossa paciência não chegue ao limite enquanto aguardamos o médico, havia a chamada de capa com os dizeres: "A arte de viver segundo Dalai Lama". Disfarcei e li muito timidamente a tal reportagem que não apresentava nada de novo, apenas fórmulas fechadas de conselhos como "aproveitar mais a natureza", "buscar a felicidade diariamente", "viver a vida em plenitude" etc, etc, etc. Prefiro "a arte de viver segundo as pessoas comuns". Vidas que me encantam pela simplicidade, confusão, erros e acertos. Vidas cercadas de artes s sem caminhos definidos.
Assim, a arte de viver segundo Francival, amigo que se existir outras vidas quero estar próximo a ele cada vez mais em cada reencarnação, é dedicar-se integralmente aos diálogos semanais entre ele e as pessoas que ligam buscando ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). Não há nada (eu disse, nada) que afaste o Francival do seu compromisso com o outro. Deixa a festa mais badalada ou o show predileto para se deslocar da vida social e esperar pelos atendimentos telefônicos carregados de tristeza e sofrimento Será que ele leu os conselhos do líder espiritual do Dalai Lama para tomar tal atitude? Duvido.
A arte de viver segundo Samarone, irmão, amigo, poeta e escritor estaria pautada nos seguintes pontos: ler, ler, ler. Escrever, escrever, escrever. Ouvir boa música e conversar com os amigos. Acho que Samarone tem mais amigos do que o Dalai e parece que é feliz com isto.
Dona Ermira, a mãe generosa, aponta uma das suas dicas de bem viver (que agora aparece como "arte" nos meios de comunicação), mostrando que a ida semanal a uma igreja situada na beira-mar em Fortaleza vale mais do que mil retiros espirituais. Ela confessa que a audição do barulho das ondas faz um bem danado. A missa talvez fique em segundo plano, mas o mar, este faz um bem danado. O mar às vezes nos faz esquecer da lama.
Se o mar espanta todos os males, o bar fortalece a alma, a interação entre as pessoas e promove ações coletivas como a preparação da festa de aniversário de algum membro da comunidade ou a possível visita a um amigo doente depois da bebedeira. Arley, Rodrigo, Antonio José, Neto, Patrícia, Eurídes e Madson enveredam pela fórmula de que nos bares da vida a relação humana se transforma e possibilidades são apontadas. Até agora não vi nenhuma receita como esta divulgada pelos guias espirituais de plantão (acho que nehum deles bebe). A arte de viver parace não ter receita pronta para estas pessoas que tem no bar a boa referência. Nem o teor alcóolico tem fórmula definida. Alguns deles se embriagam com duas cervejas em uma semana (nenhum deles toma duas cervejas apenas) e em outra estão lúcidos, formais, sérios após a ingestão de umas vinte cervejas. Cervejada é que nem paz interior: uns dias mais, outros, menos.
A tentação de discorrer sobre a arte de viver na percepção de diversos colegas e amigos está me tomando. Acho que vou escrever a parte II. Termino com uma frase do próprio Dalai Lama que está estampada na velha revista: "a felicidade e a paz interior dependem do calor do coração". Alguém entendeu?

Para Tonho e Arley que a esta hora devem estar com os corações cheios de calor alcóolico.

Tuesday, June 06, 2006




"Traga um copo d'água que eu tenho sede,

e esta sede pode me matar". Dominguinhos.

Falta copo no mercado?



Um dia comum. Uma cena comum. O episódio a ser narrado ocorre em um grande hospital especializado em reabilitação motora e neurológica. Pacientes de diversas idades e enfermidades inimagináveis estão lá. Vítimas de trombse, AVC, atropelamentos, quedas de escadas, paralisia cerebral, pólio, balas perdidas e uma série de outros entraves que impedem a plena locomoção motora fazem exercícios com frequência neste hospital.
Alguns pacientes estão lá há anos, conhecem cada ambiente, sabem quando fizeram a última reforma no prédio e com toda a autoridade que lhes é delegada, falam da vida dos outros, especialmente a dos funcionários que os atendem.
Outros enfermos passam não mais do que dois, três dias em tratamento fisioterápico. Jogador de futebol parece sofre menos do que os demais. Marcam presença e vão embora. Sequer gravam os nomes dos atendentes. Ah, jogador serve para outras coisas.
Pois bem, neste centro de especialidades médicas uma senhora velhinha, bem velhinha mesmo, destas que a gente imagina existir apenas no mundo da fantasia. Tinha cabelinho branco (branco mesmo, mais do que a pele da branca de neve), uma roupa bastante tradicional com cores variando entre o bege e o marrom, nenhuma maquiagem, um sapatinho fechado e não usava adereços como colares ou brincos.
A velhinha de traços meio destoados do apelo do mundo da vaidade e da moda tremia as mãos algumas vezes e aguardava o atendimento médico sentada em uma das cadeiras disponibilizadas para este fim. Não estava acompanhada naquele momento.
Enquato ela aguardava ser chamada o inesperado ocorreu: a mulher verbalizou que estava com sede. Isto mesmo, sede, daquelas que apenas as pessoas do sertão parecem sentir. E a nossa personagem falou quieta e timidamente para uma das atendentes: "estou com sede, quero um pouco de água". Parecia que ela tinha dito: "descobri a cura da Aids" ou "sou pedófila e adoro criancinhas". A atendente ficou branca, amarela, vermelha, azul, da cor que vocês imaginarem pois a paciente estava com sede e queria água. A mesma água que a velhinha das fábulas infantis pedia.
Um verdadeiro rebouliço se formou no hospital. A notícia correu rápido: "a mulher quer água". O bebedouro estava a pouco mais de 10 metros e alguém pedira água em um copo, desprezara a modernidade. Um fato inédito ocorrera. "Não tem copo", alguém falou. "Só tem água no bebedouro mesmo", outra pessoa comentou. "Veja se alguém tem um copo aí", sugeriu mais uma atendente. Creio que nem o leilão da Varig ou o julgamento da Suzane serão tão concorridos quanto foi a busca por um copo para servir um pouco de água a uma velhinha.
Céus e montanhas se moveram, mas a velhinha ficou sem saciar a sua sede. Só havia o bebedouro a pouco mais de 10 metros e uma cantina, onde a água é vendida, mas ninguém quis comprar o produto solicitado.
Quem se preocupa com uma velhinha que treme as mãos e sente falta de um copo d'água em uma manhã fria de BH? O que os leitores não devem saber é que o tal bebedouro citado quase sempre está danificado. Somos pacientes mesmo! Vou ali tomar uma água e volto depois para ler os comentários de vocês.

Para os Panicalis Souza de Oliveira que demonstram paciência ( e carinho, claro) o tempo todo comigo.

Monday, May 29, 2006


Saindo das padronizações: outros vôos.

Ainda o aeroporto como cenário das minhas crônicas. Como só viajo de avião uma vez aqui, outra acolá, gosto de ficar observando o movimento, vendo diversas pessoas correndo para não perderem os seus vôos, outras tomando cafés, algumas vendo os programas sem graça que paasam nas tvs (às vezes colcocam duas tvs ligadas ao mesmo tempo com programação diferenciada) etc.
Também há um número expressivo de viajantes que se dedicam quase que exclusivamente aos seus celulares, lap tops, revistas, livros, palavras cruzadas, pequenas sacolas etc. Ah, e o barulhinho incessante e repetitivo que acompanham as chamadas "vôo tal, companhia x, blá, blá, blá" .
Os cenários dos aeroportos são desenhados por uma igualdade arquitetônica e frieza nas relações sociais que não se estabelecem de forma plena. A presença das pessoas nos aeroportos, no entanto, produz uma série de possibilidades de encantamento com o mundo, do encontro com o outro, senão vejamos:
Aeroporto internacional de Confins, o maior do estado de Minas Gerais. Por ele passam chefes de estado, artistas, professores, engenheiros, prostitutas, freiras, políticos, empresários e um número incontável de turistas. Parece não haver sentimento nos embarques e desembarques. Um esboço de cópia dos sentimentos é colocado pelas agências de turismo que sempre "estão felizes" com a nossa chegada (a chegada do capital para a capital).
Mas feleicidade mesmo é a despedida com o toque de festa, a chegada com gostinho de saudade duradoura. Os abraços demorados como se não existisse mais ninguém para embarcar e a pouca importãncia dada aos avisos de "última chamada" ou "embarque imediato".
Um amigo iria participar de um congresso em uma capital do Nordeste. O seu embarque foi marcado por um "momento família" singular. A esposa o abraçava, o filho pedia a mesada, a filha distribuia beijos para o pai querido, todos o perguntavam se não estava esquecendo nada, se estava levando o telefone celular, se comprara o protetor solar, etc, etc, etc. Tirar fotos era uma parte da ação coletiva.
Ninguém se preocupva com o tempo do carro no estacionamento ou se a casa onde moravam estava sozinha, pronta para os ladrôes. A família prestigiava o bom pai, marido, esposo e acadêmico. Não era apenas mais um passageiro para embarcar no aeroporto internacional.
O "chec in" foi um "check estamos aqui". A família estava unida, completa e feliz, dessas que não existem muitas hoje.
O simples passageiro para as companhias aéreas tornou-se gente vip (será que existe isso?) para os familiares. Nenhum programa de milhagem dá cobertura tão ampla como a que abrange o carinho familiar.
Embarque feito, o nosso protagonista busca um lugar na aeronave próximo a janela. Para ver melhor as paisagens mineiras? Não, para acenar para os familiares que estavam no terraço do aeroporto acenando e desejando boa viagem. Felizes os que voam menos e vivem mais as possibilidades terrestres.

Para Eliano. Companheiro de viagens e de caminhada acadêmica.

Wednesday, May 24, 2006


Sobre aeronaves, aeroportos e claro, gente.

Quase cinco horas de uma destas madrugadas do mês de maio. Aeroporto de Brasília, capital do nosso país. Uma primeira cena me chamou a atenção: o tal aeroporto estava vazio. Lojas, cafés, pontos de taxi, livrarias, floricultura e banca de revistas fechados. As escadas rolantes estavam, pásmem, paradas (faz tempo que não vejo escadas rolantes paradas, quisá em aeroporto).
O elevador mais parecia um adereço de tão estático que estava, parecia pedir para que alguém o colocasse para entrar em atividade (o que fiz, certamente).
Não havia ninguém em nenhum local. Pensei que estava sonhando ou que havia bebido demais. Brincava com a imaginação e procurava alguém para conversar um pouco, paquerar, pedir informações. Estava difícil de conseguir o intento. Fui ao banheiro...muitos miquitórios, todas as portas dos sanitários abertos, difícil escolher em qual deles entrar. Um passante aqui, outro ali, nenhum passageiro a esperar o vôo. Nada!
Cadê o movimento de Brasília? A madrugada parecia acalmar os ânimos da metrópole associada ao poder político e econômico e mostrava no seu aeroporto, quietude, silêncio e uma certa tranquilidade. Cheguei cedo demais, pensei. Será que o mundo acabou e eu fiquei sozinho em um aeroprto? Cruzes!
Lentamente o terminal de pousos e decolagens do transporte aéreo vai "acordando". Chegam os primeiros funcionários das redes de fast food, cafeterias, do estacionamento e da mautenção/limpeza. O pessoal do atendimento das companhias aéreas ainda não havia "dado sinal de vida", como dizia a minha avó.
De repente, uma música ecoa por boa parte do aeroporto na voz de uma mulher. A voz é forte e a canção entoada com sonoridade. Há pequenas pausas para a declamação de pequenos trechos bíblicos ou orações tradicionais como o pai-nosso e a ave-maria. Isto parece anunciar que agora a cidade acorda, que em poucos minutos os "check-ins", "check-outs", "permissões para pousos e decolagens" e consumo, muito consumo tomarão conta do aeroporto.
Por enquanto, só orações e música . Tenho vontade de me aproximar da beata cantora da madrugada, mas fico apenas no olhar curioso de quem não entendeu o contexto da situação por completo. A explicação vem de um funcionário do estacionamento que acabara de chegar e esboça um pequeno papo. "Ela vive aqui. Vem todas as noites e fica aí andando pelo aeroporto, cantando e rezando. Depois senta no mesmo local e fica rezando. Dizem que ela é "letrada", que estudou filosofia e outras coisas, mas só quer ficar aqui no aeroporto. Ela e outra que vende livro ficam aqui o tempo inteiro. Parece que não tem lugar para ficar". O lugar delas talvez seja o não lugar dos outros, pensei. As duas mulheres são conhecidadas como as "senhoras do aeroporto". Deram asas ao imprevisível. Humanizaram os instantes.

Para Marcelo, que vive de aeroporto em aeroporto e tem asas para muitos vôos.