Uma figura emblemática, curiosa e bastante popular venceu as eleições no domingo passado no maior colégio eleitoral do país: Clodovil, o apresentador de tv e estilista teve quase 500.000 votos desbancando do pleito personagens antigos e experientes da cena política nacional. Até aqui nada de novo.
Clodovil, como todos sabem e é amplamente alardeado na imprensa nacional, não tem um projeto político definido para o seu mandato, diz não saber como funciona o esquema de trabalho do Congresso Nacional e alardeia que desconhece quanto vai ganhar entre salários e “extras” durante o período em que estiver à frente da atividade parlamentar.
Deve saber, no entanto, que esta não é uma função gratuita, voluntária. A sua farta conta bancária (segundo ele mesmo) ganha agora um reforço com alguns “trocados” a mais. Sabe também que o seu cargo permite empregar algumas pessoas de sua confiança. A abstração da realidade tem os seus limites, claro. É necessário respirarmos um pouco de realidade de vez em quando.
Este personagem, tido por alguns como enigmático, foi eleito por muitos milhares de eleitores paulistanos debochando da própria homossexualidade e da política nacional. Conseguiu com isto, reproduzir em cadeia nacional de rádio e tv através do horário político obrigatório, fragmentos de atitudes que fazem parte do nosso cotidiano. As piadas, mesmo as de gosto duvidoso, fazem parte da nossa história. Os debates mais densos sobre preconceito e as propostas políticas deste então candidato, ficaram sem importância naquele contexto. Respirar um pouco de alienação nos faz bem.
As "pérolas" (asneiras mesmo) proferidas pelo Clodovil antes e depois das eleições surtiram um efeito devastador na percepção coletiva do que seja uma eleição séria, amadurecida, com debates mais elaborados sobre o papel da política na sociedade atual. Certamente ele não está só neste esfacelamento da seriedade que um processo eleitoral possa promover. Nós, eleitores ou não, clamamos de certa forma pela morte da seriedade dos temas em época de campanha política. Clodovil saiu na frente.
Em seu programa eleitoral as pautas se inverteram e as que abordavam temas mais instigantes e sérios como corrupção e propostas de governo deram lugar ao tom caricato e visivelmente jocoso de quem tinha como proposta apenas eleger-se para depois descobrir as trilhas do poder. “Brasília não será a mesma depois de mim”, falava o então aspirante a um cargo político, o Clodovil. Creio que ele foi tímido na sua assertiva. Desconfio que a política nacional não será a mesma depois da sua eleição.
Clodovil, o agora deputado federal provoca risos e fúria. É capaz de dizer com todas as letras que corrupção não se estabelece com pouco dinheiro. É preciso, na visão dele, ter muito dinheiro para que corruptor e corrupto se entendam. Traduz com propriedade a demência preconceituosa estabelecida socialmente que reproduz que os que carecem de mais dinheiro ou os que não tem uma conta-corrente mais suntuosa são mais vulneráveis à sedução do capital, venha ele de onde vier. Clodovil pode errar nas suas opiniões, ninguém o leva a sério. Este é o perigo.
Cumpre registrar o mérito dele ter vencido o pleito através de um pequeno partido político. Alguém conhece o PTC?
Em www.estuariope.blogspot.com , do meu mano Samarone, há um texto pra lá de interessante sobre o período eleitoral.
Dedico este texto a Aninha (Piu), que assim como alguns políticos, some, desaparece.
2 comments:
Menino, não sei por qual motivo tem tão poucos comentários no seu blog. Seu texto é muito bom. É preciso ser mais divulgado.Vi a sugestão no Estuário de Samarone e vim correndo. Li tudo e fiquei fiel pra sempre. Posso?
Um cheiro.
Anna, não sei como responder diretamente na sua caixa de mensagens. A sua fidelidade ao blog me deixou envaidecido. Creio que há poucos comentários sobre os textos porque tenho poucos leitores mesmo (risos).
Um abraço carinhoso, Paulo
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