Saturday, August 12, 2006

Sorvete, lembranças e avó

Um sorvete traz muitas lembranças. Cheguei a esta conclusão após sair dia destes para aproveitar um dos poucos dias de calor que tem feito aqui em BH. Fui colocando diversos sabores em um pequeno recipiente para ver no que a mistura ia dar. Qunado cheguei quase ao final do balcão e as opções estavam no fim, vi um pote escrito "Ameixa". Olhei de novo, respirei fundo e lá estava eu caprichando na medida da bola e viajando no tempo por causa de uma bola de sorvete.
Explico: desde que eu era menino (ih, os anos passaram rápido) costumava ir com a minha avó materna tomar uns sorvetes após a missa dominical ou mesmo nos finais de tarde em qualquer dia da semana. Eu, indeciso como ainda permaneço, passava um tempão escolhendo se queria sorvete de tapioca ou de siriguela, se misturava sorvete de tamarindo com milho verde. Tempos em que eu morava no Ceará.
Depois vinha a boa velhinha (todas as avós são) e dizia sem nehum vacilo ou indecisão: "quero o meu de ameixa". Uma dezena de opções e ela dizia sempre a mesma frase: "O meu é de ameixa". Depois percebia que ela olhava curiosamente para ver se havia pedacinhos da fruta no seu pedido. Estes momentos não esquecerei jamais. O neto indeciso que saboreava fragmetos de diversos sabores e a avó decidida, que não se rendia aos apelos das demais opções de sabores de sorvete ofertados. "Ameixa faz bem", dizia ela. Concordava sem nem saber o porque.
Depois fui incorporando o sabor escolhido pela minha avó ao meu paladar. O sorvete com sabor de ameixa sempre está entre as minhas opções favoritas até hoje. Tem um sabor de carinho de vó. Faz bem mesmo.
Para não perder o costume, nesta última degustação de sorvetes que fiz há poucos dias, deixei a bola com sabor especial por último. Anos se passaram, erros cometi, acertos esbocei e percebi que um simples sorvete pode modificar planos, alterar humor, fomentar a suadade e estimular a memória. Ainda sinto o gostinho da interação com a vó Zeneuda no ar. Continuarei falando de goluseimas e pessoas.

Para Vó Zeneuda, que não toma mais sorvete comigo. Para Dona Noemia, que sempre tem uma boa conversa quando almoço em sua casa.

2 comments:

Anonymous said...

Como o cotidiano e as coisas corriqueiras podem ser ricos se os observamos mais amiúde...

Anonymous said...

Muito legal esta crônica. Parabéns! Nossas lembranças e sabores estão sempre a nos presentificar momentos inesquecíveis. Sua crônica me colocou no meu Ceará outra vez, com meu querido avô.Beijão. Magna.