Thursday, July 13, 2006

"A arte de viver segundo"...

Consultório médico. Tarde de inverno em Belo Horizonte. Vários pacientes esperando o profissional de saúde que insiste em chegar atrasado mesmo que todos os funcionários da clinica e diversos pacientes saibam que a demora no atendimento é apenas parte de uma cultura do demerecimento do outro.
O turno da tarde é para os que possuem convênios médicos. O turno da manhã é para os que pagam a consulta à vista, "cash". Neste caso o médico se transforma, fica pontual como a rainha Elizabeth. Quer ver a cor do dinheiro ou do cheque imediatamente. Não é disto que quero falar agora, mas o cenário que deu início a esta crônica é um consultório médico.
Não sei porque consultórios médicos e salões de beleza disponibilizam tantas revistas banais e antigas para os seus clientes. talvez para refrescar a nossa memória (é uma possibilidade). Dia destes folheei rapidamente uma delas que falava do caso PC Farias. Estávamos no desgoverno Collor. Me senti mais velho do que imaginava. Participei do "fora Collor" e agora estou sem ânimo para o "fora Lula".
Pois bem, em uma destas revistas disponibilizada para que a nossa paciência não chegue ao limite enquanto aguardamos o médico, havia a chamada de capa com os dizeres: "A arte de viver segundo Dalai Lama". Disfarcei e li muito timidamente a tal reportagem que não apresentava nada de novo, apenas fórmulas fechadas de conselhos como "aproveitar mais a natureza", "buscar a felicidade diariamente", "viver a vida em plenitude" etc, etc, etc. Prefiro "a arte de viver segundo as pessoas comuns". Vidas que me encantam pela simplicidade, confusão, erros e acertos. Vidas cercadas de artes s sem caminhos definidos.
Assim, a arte de viver segundo Francival, amigo que se existir outras vidas quero estar próximo a ele cada vez mais em cada reencarnação, é dedicar-se integralmente aos diálogos semanais entre ele e as pessoas que ligam buscando ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). Não há nada (eu disse, nada) que afaste o Francival do seu compromisso com o outro. Deixa a festa mais badalada ou o show predileto para se deslocar da vida social e esperar pelos atendimentos telefônicos carregados de tristeza e sofrimento Será que ele leu os conselhos do líder espiritual do Dalai Lama para tomar tal atitude? Duvido.
A arte de viver segundo Samarone, irmão, amigo, poeta e escritor estaria pautada nos seguintes pontos: ler, ler, ler. Escrever, escrever, escrever. Ouvir boa música e conversar com os amigos. Acho que Samarone tem mais amigos do que o Dalai e parece que é feliz com isto.
Dona Ermira, a mãe generosa, aponta uma das suas dicas de bem viver (que agora aparece como "arte" nos meios de comunicação), mostrando que a ida semanal a uma igreja situada na beira-mar em Fortaleza vale mais do que mil retiros espirituais. Ela confessa que a audição do barulho das ondas faz um bem danado. A missa talvez fique em segundo plano, mas o mar, este faz um bem danado. O mar às vezes nos faz esquecer da lama.
Se o mar espanta todos os males, o bar fortalece a alma, a interação entre as pessoas e promove ações coletivas como a preparação da festa de aniversário de algum membro da comunidade ou a possível visita a um amigo doente depois da bebedeira. Arley, Rodrigo, Antonio José, Neto, Patrícia, Eurídes e Madson enveredam pela fórmula de que nos bares da vida a relação humana se transforma e possibilidades são apontadas. Até agora não vi nenhuma receita como esta divulgada pelos guias espirituais de plantão (acho que nehum deles bebe). A arte de viver parace não ter receita pronta para estas pessoas que tem no bar a boa referência. Nem o teor alcóolico tem fórmula definida. Alguns deles se embriagam com duas cervejas em uma semana (nenhum deles toma duas cervejas apenas) e em outra estão lúcidos, formais, sérios após a ingestão de umas vinte cervejas. Cervejada é que nem paz interior: uns dias mais, outros, menos.
A tentação de discorrer sobre a arte de viver na percepção de diversos colegas e amigos está me tomando. Acho que vou escrever a parte II. Termino com uma frase do próprio Dalai Lama que está estampada na velha revista: "a felicidade e a paz interior dependem do calor do coração". Alguém entendeu?

Para Tonho e Arley que a esta hora devem estar com os corações cheios de calor alcóolico.

4 comments:

Anonymous said...

Paulo,
Cheio de calor alcóolico e saudades: do meu pai e sua.
Abração.

Anonymous said...

Senhor Paulo Henrique:
informo que seu blog está sendo adicionado aos meus favoritos.
Espero que goste, e que continue escrevendo estes textos com gosto de pão de queijo e café forte.
um beijo,
sama
ps. retire o moderador de comentários, que é um saco.

Anonymous said...

Oi Paulo,

Pois é, gostei do seu texto sobre a arte de viver. Com certeza é um tema que pode contagiar.

Ainda não encontramos nosso manual de "como usar!" Houve uma época, e lá se vãos uns 15 anos atrás, resolvi por conta própria anotar o que é preciso fazer para ser uma pessoa feliz. Fui numerando, fazendo uma lista mesmo! Ficou até bacana! Contudo, na prática, sou como o comum dos mortais! Praticar é mais difícil que teorizar!

Bem fez Aristóteles, o grande filósofo grego que disse que, "a suprema forma de vida é a vida contemplativa". Que ele chamou de "Vida Ativa".

Interresante não é? Creio que ele está com a razão, pois afinal de contas, quando estamos felizes, estamos contemplando mais a vida e as coisas! Preenchendo de sentido nosso viver! Isso é felicidade!

Um abraço do Eduardo Augusto, filósofo que faz questão de não tornar a filosofia uma coisa chata e insuportável!

Continue nos escrevendo!

Anonymous said...

Paulo,

Acho que salvei sem querer meu comentário como anônimo. Nem mesmo na multidão me sinto anônimo! rs! Nem sinto os outros!

Um grande abraço, continue nos escrevendo sobre o viver!

Eduardo