O circo: pequenas observações sobre.
Cirque du Soléil. Pequena temporada no Brasil (diga-se Rio de Janeiro e São Paulo, as representações da metrópole). O sonho de consumo de muitos. Já não podemos utilizar outro termo que não seja consumo quando estamos falando deste circo. Não é mais o sonho de descobrir o palhaço, o mágico ou o malabarista. O circo, o lugar do congraçamento coletivo, da diversão, da alegria poderia ser mais do que consumo. Neste caso, não é. O não consumir significa não ter direito ao encantamento.
Mesmo assim, gostaria de estar bem estruturado financeiramente para ver o espetáculo midiático com todas as performances impecáveis dos seus integrantes e o show de luzes, cores e música prometidos. As contradições do capital me seduzem também.
A "nova" roupagem do circo apresenta várias curiosidades: uma delas é a separação nítida dos espectadores por renda. Os que puderem pagar mais (muito mais) terão assentos mais próximos do palco, estarão alimentados por um coquetel antes do show, teraão vagas exclusivas no estacionamento e prioridade nas compras de souvenirs e artigos exclusivos do Cirque Du Soléil.
Os que não puderem arcar com estes custos ficarão com os famosos "saldões de estoque". Os grupos menos privilegiados economicamente levarão os seus binóculos para ver tudo de perto e farão lanchinhos antes de ir ao espetáculo. A sociedade faz os seus arranjos, mas não elimina de fato as suas contradições. Ah, e para clientes "especiais" de um banco patrocinador do espetáculo houve a a venda exclusiva de ingressos antes da abertura para a comercialização ampla. Reserva de mercado cheia de status.
Creio que os antigos circos que prestigiei como o " Thianny" e suas águas coloridas não abriam tanto a promoção da divisão dos seus espectadores meramente pelo poder aquisitivo. Sim, haviam os camarotes, as cadeiras e as arquibancadas mostrando certo público para cada tipo de assento. Mas o carrinho de pipoca era de todos, a distribuição de ingressos para várias pessoas da cidade despertava o encantamento da meninada e mantinha um vínculo de intimidade com a vizinhança, a venda de meia entrada era garantida a quem fosse estuante sem número definico de ingressos desta categoria por dia. Agora estamos falando de direitos, que muitas vezes são ofuscados pelas luzes da mídia.
Na página oficial do grupo há uma pretensiosa e ousada definição para ele próprio: "criado como um antídoto à violência e ao desespero tão prevalentes no Séc XX, este espetáculo fanatsmagórico apresenta uma nova visão de vida urbana, transbordante de otimismo e alegria".
Visão esta que se apagará certamente na saída do espetáculo. Uma nova visão de vida urbana contemplaria mais do que o proposto na chamada do espetáculo.
Mas circo é entretenimento, graça. Então o espetáculo internacional e glamouroso é circense. Ou não? Gostaria de ir.
Para os amigos malabaristas do orçamento financeiro que às vezes não chega ao mínimo. Para a magia de celebrar com eles a diversidade e os desencontros do dia-a-dia.
Estou aguardando as contribuiçoes dos amigos e colegas com o envio de textos para o blog.
3 comments:
Olá, rapae do Crato.
Nao, eu nao tive o privilegio de nascer no Crato. Sou de Missao Velha, mas estudei na sua cidade, no colegio agrícola.
Voltarei ao seu blog mais vezes, gostei do seu modo de falar do cotidiano... ah, espero mesmo, mas como espero que os encontros superem os desencontros, se nao...
E que malabaristas ....
Um abração, PH. Como sempre, o escrever sobre o quase nada .... virando tudo.
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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