Desde a minha infância tenho um certo fascínio pela história biblica de Sodoma e Gomorra. Contada pela minha avó materna, essa passagem relatada pelos escritos sagrados ganhava ares de medo, terror, e claro, muita inquietação com a perspectiva de virar sal se olhasse para trás.
Aos leitores mais religiososo peço perdão para contar a minha versão do episódio bíblico tal qual imaginei quando ouvia os relatos da minha avó. A história era mais ou menos assim: muitos homens e mulheres viviam em cidades sem regras. O pudor perdeu o seu espaço e a libertinagem tomou conta de todos. Era o verdadeiro canaval carioca em épocas mais remotas. Todo mundo bebia, cheirava e transava o dia todo. O trabalho parecia não existir para ninguém. Era o paraíso, digo, o inferno.
Deus, então, num dos seus dias de trabalho árduo e inquieto com a tranquilidade celeste, viu que as pessoas de Sodoma e Gomorra não estavam nem aí para as práticas religiosas e morais e mandou uma mensagem avisando que ia destruir as cidades e quem quisesse se salvar deveria abandonar tudo e seguir para outro lugar seguro. Foi o assunto do dia nas cidades. Entre uma bebedeira e outra as pessoas pensavam se abandonariam ou não as cidades.
No entanto, avisava o Poderoso Chefão, os que desejassem a salvação, além de trilharem um caminho seguro, não deveriam olhar para trás em hipótese alguma. Deveriam seguir o caminho da libertação com o olhar para frente.
Certamente muitos curiosos e incrédulos deram uma espiadinha para ver o que acontecia em Sodoma e Gomorra e se transformaram em estátuas de sal. A narradora desta pequena história me lembrava que havia muitas explosões, que as pessoas gritavam muito, que o choro tomava conta de quase toda a população. Eu perguntava a minha avó como alguém conseguia não olhar para trás com tanta confusão. Se duvidasse ainda haveria alguém "tomando umas" mesmo sabendo que iria pagar um preço alto pela escolha.
A resposta da vovó era que os que queriam ser salvos deveriam olhar para frente e deixar os erros do passado sepultados, imexíveis.
Tenho pensado na idéia de sacudir os elementos do passado para construir a salvação (não no aspecto bíblico) das minhas propostas de vida atuais. Rever as imensas bobagens que fiz por mera opção clara e definida sabendo que tudo se transformaria em sal depois. Viver é errar. O ano pra mim terminou. Ainda não me transformei em pedra de sal. Estou mais insosso do que nunca, mas continuo dando umas olhadas para trás. Curiosmante o passado me seduz.
P.S - agora vou ler, quase 40 anos depois de ouví-la da minha avó, como a história de Sodoma e Gomorra é retratrada na bíblia.
Fran, este texto é para você, que não lê o meu blog, mas é parte do meu passado, do meu presente e claro, do nosso futuro.
2 comments:
Não Gostei. zé paulo
Adorei!
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